Pular para o conteúdo principal
NIVALDO MOSSATO
👋 Olá Nivaldo, tudo bem? Estava lendo seu blog e gostaria de conversar com você.

A ARTE DE AMAR - UMA EXPERIÊNCIA NA ESCOLA

O DADO DO AMOR PARA IMPRIMIR, RECORTAR, COLAR E JOGAR. DIREITOS RESERVADOS À EDITORA CIDADE NOVA: www.cidadenova.org.br e MOVIMENTO DOS FOCOLARES; www.focolare.org



Não poderia ser diferente: tudo começou quando decidi fazer um pequeno ato de amor para um colega de curso que veio equipado de uma outra faculdade.
Eu havia percebido, já há alguns dias, que 'aquela pessoa', cujo nome eu ainda não sabia, aparentava estar cada vez mais triste. Aproximei-me na intenção de 'ser amor' para ela e ouvi-la; quem sabe poderia ajudar.
Perguntei-lhe se estava com algum problema e ela me falou da situação pela qual estava passando: havia começado a dar aulas numa escola de ensino fundamental na periferia de uma cidade próxima a Maringá-Pr. no início do ano. Já era meados de abril e ela ainda não havia conseguido interagir com os alunos, nem cumprir a proposta pedagógica. A sala estava muito desordeira, briguenta, não queria fazer nada além de bagunça e falar palavrões. Isso estava deixando a professora iniciante frustrada e já lembrada em abandonar aquela experiência. Para permanecer na sala, tinha que chavear a porta, e mesmo assim, se descuidasse, havia alunos que fugiam pela janela. A violência e a sexualidade foram muito afloradas, acima de qualquer normalidade. Ela não sabia mais o que fazer. Falei-lhe, então, do Projeto do Dado do Amor; uma iniciativa de Chiara Lubich (1920-2008), fundadora do Movimento dos Focolares, que visa promover, através da fraternidade e do amor recíproco, uma mudança de comportamento social. A dinâmica consiste na vivência dos seis aspectos da Arte de Amar, estampados nos vértices de um dado. Joga-s e o dado e procura-se vivenciar a frase sorteada. Esta experiência está sendo realizada em escolas de vários países, com excelentes resultados. Ela ficou interessada e colocou-me à disposição para ajudá-la, desde que, autorizados pela direção da escola; o que não demorou a acontecer. O primeiro dia foi muito difícil,separei seis brigas na sala e foi impossível falar com eles. Ao terminar o horário eu estava exausto. Mesmo assim fui falar com a diretora, que já me esperava aflita, questionando: você vai voltar? Confesso que naquele momento a vontade era de desistir. Mas fechei os olhos e vi Jesus que clamava em cada uma daquelas crianças. Respondi: é claro que eu volto!

No segundo dia, cheguei na escola com uma frase no coração: 'realizar a vontade de Deus no momento presente'. Uma luz parecia indicar um novo caminho. Adotei outra estratégia. Fiz pequenos grupos de cinco alunos e consegui dar o primeiro passo, criando vínculos com cada um. Não falei do dado, por enquanto, só contei-lhes minhas experiências (muitas) e ensinei-lhes a fazer pequenos atos de amor. Repita a estratégia várias vezes até conseguir que eles me ouvissem na sala de aula. Imprimi alguns desenhos de cachos de uva e fiz-lhes uma proposta: 'para cada ato de amor que fizeram para o próximo, poderiam pintar uma uva. A professora iria, todos os dias, ouvir essas experiências e compartilhar com todos. Cada ato de amor vivenciado, dava o direito de transcrever a uva pintada para um painel maior, colocado na parede da sala, para que todos pudessem visualizá-lo'.
A cada encontro, os entregava a Jesus e os amava intensamente. Procure senti-los em suas dores e necessidades. Abraçava cada um, em particular, e deixava que percebessem que pudessem confiar.
O amor começou uma circular. Os atos de amor começaram a surgir, um a um. A professora os acolhia e os levava à luz na sala. Quanto mais amavam, mais se sentiam amados e mais se doavam uns aos outros. Na quarta semana, as zeladoras da escola já diziam: a sala da Rosana nem parece a mesma, nem preciso limpar.
Um dia duas alunas vieram mais cedo para fazer um ato de amor para a professora: limparam a sala, arrumaram os braços
e as cadeiras. Foi uma grande surpresa para todos. Outro dia, saiu uma briga na sala vizinha. A professora não conseguiu conter a turma e pediu ajuda à professora da 'nossa' sala. Ao sair, pediu aos alunos que ficassem sentados e copiassem a matéria do quadro. No entanto, esqueci de 'chavear' a porta. Ao devolver, vinte minutos depois, deparou-se com um silêncio absoluto. Sentiu as pernas tremerem ao lembrar que não havia fechado a porta e pensei que todos tinham ido embora, como sempre acontecia. Abriu a porta e deparou-se com uma nova realidade: 'todos os alunos estavam sentados, em silêncio, fazendo a cópia do quadro'. Ela chorou ao ver a cena e agradeceu a Deus pelo poder presenciar aquele momento. Cada dia que passava percebíamos que 'um esforço de amor' se fazia presente na vida de cada criança. Eles queriam melhorar. Praticavam as experiências e descobriram a 'contaminar' os coleguinhas das outras salas de aula. Estendemos o projeto para as famílias dos alunos, reunindo os pais uma vez por mês para sabermos como era a realidade familiar de cada um. Aos poucos, percebemos que os pais também sentiram que havia 'algo de novo acontecendo' com aquelas crianças. O aprendizado e as notas melhoraram, progressivamente. Como incentivo, passeamos num centro de diversão infantil. O passeio foi patrocinado por algumas empresas que acreditaram no projeto e nos auxiliaram. Este momento ímpar na vida daquelas crianças contribuiu para que os laços de amor e reciprocidade que nos uniam ficassem ainda mais fortes, dando sustentabilidade às ações que fizemos em sala de aula para garantir o conteúdo didático. A professora era o ponto mais forte desta conexão. Vivia cumpre a 'arte de amar' com seus alunos, ao ponto de despertar o interesse de seus filhos e esposo, que com o passar do tempo, passaram a vivenciar também esta experiência. Ela não esperava ser amada. Amava por primeiro e compartilhava os resultados de sua vivência. Um amor tão forte que superou todas as dificuldades e fez brotar na sala de aula um clima de paz e harmonia . "No início - comentei a professora - eu não acreditei que este projeto pudesse dar algum resultado positivo. Mas na medida em que os 'atos de amor' aconteciam eu percebia que alguma coisa mudava no comportamento deles. Quando aconteceu comigo, que fizeram vários atos de amor para mim, e, passaram a prestar mais atenção nas aulas, organizaram a sala, respeitavam-se e compartilharam o lanche, material didático e brinquedos, perceberam que era realmente pra valer. Não dava mais para duvidar". No segundo semestre implantamos o projeto em todas as salas do período da tarde, com resultados surpreendentes. Dois meses depois, uma exposição de cartazes coloridos nas paredes da escola. Neles, as crianças 'contavam' através de desenhos e figuras, seus atos de amor, contribuindo assim com a propagação de suas experiências, levando outras crianças a 'imitarem' seus gestos. Outros voluntários do Movimento dos Focolares aderiram ao projeto, fazendo algumas horas do seu dia para estar com aquelas crianças e com seus familiares. Iniciamos um ciclo de visitas para levar a 'boa nova' às famílias, numa tentativa de integração com a escola. A experiência 'rompeu os muros' da escola. Os atos de amor das crianças passaram a ser reconhecidos pelos pais, que, nas reuniões davam seus depoimentos: 'percebi que meu filho era diferente. Fazia coisas que normalmente não faziam, como juntar a louça, ajudar com os afazeres da casa (...) até abraços eu ganhei (...) '. Mesmo nas salas que eram tidas como as mais 'comportadas' os atos de amor fizeram a diferença. Uma professora nos confidenciou: 'os alunos passaram a compartilhar seus pertences, a se preocuparem mais com a coleguinha e a ajudarem-se mutuamente nas tarefas (...) melhorou a organização e limpeza da sala e diminuíram os conflitos' . Com o passar dos meses, outras escolas do município queriam participar, implantando o projeto em suas turmas, principalmente aqueles com um maior índice de conflitos. Aos poucos, nos 'ajustamos' a esta realidade e atendemos, na medida do possível, esta nova demanda. Numa destas escolas, na turma de quinta série, nasceu a realidade de escrevermos um livro. Os alunos tiveram suas experiências e se relacionaram em pequenos escritos. Na medida em que vivenciavam a Arte de Amar, transformavam suas realidades, melhorando a si mesmo e ao meio a que pertenciam. Essas experiências de amor foram transcritas no livro "O Amor é uma Arte - A Fraternidade como Instrumento Pedagógico", que hoje é utilizado para difundir o projeto nas escolas da região. Mais uma vez o amor rompeu fronteiras, a experiência chegou à catequese. Mais de quarenta catequistas do município de Mandaguaçu participaram de um encontro de formação para implantarem o projeto do 'Dado do Amor'.


A história continua...na vida de cada um que, na sua medida, é capaz de olhar para fora de si, na direção do outro, e encontrar Jesus!


Comentários

  1. Maravilhosos são os desígnios do verdadeiro Amor.
    Parabéns Nivaldo, parabéns ao município de Mandaguaçu. Quando unidas as gotinhas de Amor espalhadas formarão um oceano de harmonia e começamos a ver o Paraíso iniciando-se já neste mundo.
    Abraços fraternos a todos.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

A PSICOLOGIA GESTÁLTICA DA UNIDADE E O CONCEITO DE FAZER-SE UM EM CHIARA LUBICH

A Psicologia gestáltica da unidade – PGU [1] ,empresta o conceito de ‘fazer-se um’ descrito por , Chiara Lubich [2] , Doutora Honoris Causa em Psicologia pela Universidade de Malta, 1999, e condecorada com outros quinze títulos Honoris Causa em diversos campos das Ciências Humanas, Prêmio Unesco de Educação para a Paz, 1996, e Ordem do Cruzeiro do Sul, 2012, para descrever a constituição da subjetividade humana, seus paradoxos de crescimento e atualização do Self, através do genuíno encontro intersubjetivo. Para a PGU, somente ao ‘fazer-se um’ com o Outro significativo se abre a possibilidade de transpor a imanência do Ser em direção a sua transcendência, onde o divino da relação possa abrir caminhos para a incorporação, no ‘Eu’, dos frutos doados pelo encontro. Para a PGU, portanto, o ‘Eu’ nada mais é que ‘sintoma/consciência’ de todos os ‘Tus’ que o antecedeu e com os quais de alguma forma contatou. O homem, antes de significar, é significado pelo outro. Antes de ser ator da própr...

A ADULTIZAÇÃO DA CRIANÇA E A INFANTILIZAÇÃO DO ADULTO

  Muito se tem falado sobre o processo de adultização ou adultificação das nossas crianças e adolescentes em contraste com a infantilização dos adultos que, por tutela e responsabilidade (responsabilidade?), deveriam ser seus esteios e consciência. Pelo menos, deveriam ser. A PGU – Psicologia Gestáltica da Unidade compreende tal processo como uma terceirização, por parte dos pais, da formação do caráter e da personalidade da criança, onde a Função Paterna que regra a formação e delimitação das Fronteiras de Ego não cumpre seu papel devido a não encontrar, nos pais, ainda imaturos afetivamente, o regramento e a constância necessária para tal exercício.   Dito de outra forma, compreende-se que o processo de adultização, embora tenha múltiplos vieses de interpretação, se inicia quando abrimos mão da educação familiar terceirizando nossos filhos precocemente para creches e escolas sem que estas estejam devidamente preparadas para absorver a demanda do processo de desenvolvimento p...