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NIVALDO MOSSATO
👋 Olá Nivaldo, tudo bem? Estava lendo seu blog e gostaria de conversar com você.

A PSICOLOGIA GESTÁLTICA DA UNIDADE E O CONCEITO DE FAZER-SE UM EM CHIARA LUBICH

A Psicologia gestáltica da unidade – PGU[1],empresta o conceito de ‘fazer-se um’ descrito por, Chiara Lubich[2], Doutora Honoris Causa em Psicologia pela Universidade de Malta, 1999, e condecorada com outros quinze títulos Honoris Causa em diversos campos das Ciências Humanas, Prêmio Unesco de Educação para a Paz, 1996, e Ordem do Cruzeiro do Sul, 2012, para descrever a constituição da subjetividade humana, seus paradoxos de crescimento e atualização do Self, através do genuíno encontro intersubjetivo. Para a PGU, somente ao ‘fazer-se um’ com o Outro significativo se abre a possibilidade de transpor a imanência do Ser em direção a sua transcendência, onde o divino da relação possa abrir caminhos para a incorporação, no ‘Eu’, dos frutos doados pelo encontro. Para a PGU, portanto, o ‘Eu’ nada mais é que ‘sintoma/consciência’ de todos os ‘Tus’ que o antecedeu e com os quais de alguma forma contatou. O homem, antes de significar, é significado pelo outro. Antes de ser ator da própria história é coadjuvante na e da história de alguém. É o todo que primeiramente dá sentido às partes. O pensamento gestáltico sobre o qual se debruça a Psicologia Gestáltica da Unidade - PGU é, como toda gestalt, paradoxal, portanto, pertencente a todos os todos que a compõe mesmo que, em dado momento, nos pareçam ser contraditórios. No entanto, são complementares. A diferença nos é fundamental. Para que uma unidade ocorra faz-se necessário que os polares sejam conscientes de si mesmo e de todos os todos de que é e ainda virá a ser. A unidade não acontece na exclusão do diferente, mas na aceitação da sua existência. A função da diferença é, por si mesma, constituir unidade[3]. A PGU tem como escopo a compreensão do homem como uma unidade holística tanto em sua forma organísmica quanto existencial, uma totalidade integrada e indivisível em suas quatro dimensões de constituição: psico-físico-sócio-espiritual, em total harmonia com seu meio ambiente no aqui-e-agora, no momento presente da sua existência. A PGU busca na Gestalt-terapia sua similaridade na tentativa de compreender o ser humano não como um ser que simplesmente necessita da natureza para sua subsistência, mas como um ser integrante, integrado e pertencente a ela. É afetivo, pois são os afetos seus primeiros instrumentos de incorporação da humanidade (ou das humanidades?). É relacional, pois é através das suas relações, do seu jeito de contatar e ser contatado pelo mundo – coisas, pessoas, animais – que ele significa e é significado. É espiritual, pois traz em si a propensão à transcendência[4] - sair da imanência do ser a ir além do ‘eu’ e do ‘tu’ que o qualifica como existente perante o mundo das coisas  e, paradoxalmente, co-existente ao fazer-se um[5] com o Outro significativo em função de um ‘nós’ transformador que o autoriza a tornar-se novamente uno, inteiro e integrado.  A PGU busca, além da compreensão da importância do contato pleno ao fazer-se um com o Outro e com o mundo na concepção de Self descrita por Frederick Perls, Ralf Hefferline e Paul Goodman (PHG), o resgate consciente e consistente das funções materna e paterna como instrumentos primordiais para a organização psicológica, afetiva, cognitiva e motora do ser pessoa pautando, no equilíbrio entre ambas, a possibilidade da formação adequada do caráter que leva à constituição sadia da personalidade e, em seu desequilíbrio, a abertura à formação das neuroses e psicoses. Portanto, a PGU afirma, convictamente que: o ‘eu’ é sintoma, é secundário e só pode nascer perante um ‘tu’ já existente!



[1] MOSSATO, Nivaldo. Psicologia Gestáltica da unidade – do fazer-se um ao tornar-se uno. São Paulo: Cidade Nova, 2025.

[2] Fundadora do Movimento dos Focolares – Trento, Itália, 1943.

 [3] PERLS, apud STEVENS, John O. Isto é Gestalt. São Paulo: Summus, 1977. p.104-105.

[4] BUBER, Martim. Eu e Tu. Tradução: Newton Aquiles von Zuben. São Paulo: Centauro, 2001.

[5] LUBICH, Chiara. A arte de amar. Vargem Grande Paulista: Cidade Nova, 2008. p.75-101.

 

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